quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Glicínia


A glicínia, plantada rente à parede da varanda da casa dos meus pais, cresceu durante anos, estendendo os seus tentáculos sobre a copa de uma velha amendoeira.

Entre a glicínia e a amendoeira criou-se uma mescla que a velha árvore, já sem dar flor, acolheu de bom grado. Reforçando as tonalidades de verde, o arbusto oferecia ainda a cor lilás dos seus cachos e, talvez por isso, habituei-me a olhar e a sentir aquela varanda, prolongada naquela espécie de caramachão, como um lugar feliz. Aí lia o jornal, conversava ou preguiçava nos dias soalheiros de Primavera e de Verão...

Aquelas gavinhas tornaram-se ramos fortes e pesados, carregando a ramada da amendoeira que, nesta Primavera, recebeu a visita inesperada de um grande enxame. A glicínia, já tão pesada, vergou à força do vento e quebrou, arrastando consigo a amendoeira e as abelhas.

O caso coincidiu com o fim de semana do 1º de Maio e, embora alertada para a situação, senti vontade de chorar ao ver a glicínia no chão e a dança frenética das abelhas à entrada de casa. Entretanto, parte do enxame desceu pela chaminé da sala e fazia um zumzum ensurdecedor que não parava. Bem tentámos o lume com muito fumo, mas as abelhas prosseguiam no seu afã de fabricar mel...
Face ao acontecido, só restava contactar os bombeiros ou os serviços de Conservação da Natureza. E porque esta instituição funciona de forma residual, tive de esperar mais de 24 horas até à "libertação final" do referido enxame!..

Depois veio o corte da ramaria. Decorridos meses, a glicínia passou a lenha e entra agora na lareira para me aquecer nestes dias invernosos... E assim se prova como "na Natureza nada se perde, tudo se transforma!"

Uma nota final para dizer que, actualmente, já duas novas trepadeiras crescem em espiral, abraçando o que resta do tronco daquela velha amendoeira. Se não se pode ressuscitar o passado, resta compor a memória.

Um comentário:

Cruztáceo disse...

nada como uma boa sombra no quintal